Eu parei em frente à porta de vidro, e como já sabia que ela estava mais lenta do que o normal, esperei alguns segundos. Depois do tempo previsto, ela automaticamente abriu para dar passagem para nós. Pela terceira vez naquela semana eu estava dentro do Shopping Center, acompanhando a minha amiga de infância, Camila.
Passear no shopping nunca foi um programa que gostei. Mas, naquelas semanas, com o término do seu relacionamento, Camila encontrou nesse passeio sua grande distração, e em mim, o amigo para acompanhá-la.
Ela era estagiária de um grande escritório de advogados e tinha esse namoro desde os tempos da faculdade. Cultivava nele a esperança de um casamento (coisa que nunca vi no outro lado do casal, mas…), filhos, casa nova e o eterno sonho de viver a vida da família da propaganda de margarina.
Apesar do relacionamento, nunca tinha deixado de lado as amizades e sempre costumávamos nos encontrar para happy hour com os amigos, passeios em parques e até mesmo em viagens de feriado com toda a galera.
Mas naquela semana o programa não podia ser diferente. “Toco, vamos no shopping comigo?”
Na primeira vez soou normal para mim. Na segunda, três dias depois, já fiquei procurando uma desculpa. Na terceira, no quarto dia, neguei, até ela começar a chorar desesperadamente e me convencer a cumprir o papel de amigo.
A ida ao shopping já era um desafio para mim, que ainda era agravado pelo fato dela parar em absolutamente todas as lojas!
Bijuterias, joias, roupas femininas, maquiagem e até em uma loja de brinquedos recém-inaugurada em que pude me distrair com um baralho do Bob Esponja exposto na vitrine.
Por dezenas de minutos ela provava, olhava, comparava e, por fim, comprava! Eu tentei conversar com ela. “Camila, você não precisa disso”, “Camila, você vai gastar todo o seu salário nisso”. Mas, ela ignorava e seguia pedindo para eu opinar em cada um dos produtos que pegava.
Por fim, mais uma vez, saíamos do shopping com ela carregada de sacolas, falando alegremente sobre todas as suas novas aquisições.
Naquela noite, conversamos por telefone. E o sofrimento da separação se juntava com uma culpa por ter gastado mais dinheiro do que podia, com coisas que não tinha a menor necessidade.
Para a minha sanidade mental, e para a dela também, na outra semana ela viajou com os pais para sua casa no litoral e lá ficou por um mês, onde foi aos poucos curando a dor que o rompimento de sua relação havia causado.
Meses atrás, lendo uma pesquisa publicada pela Universidade de Harvard, eu me lembrei da Camila.
O estudo mostrava que, quando não nos sentimos bem emocionalmente, estamos 3,5 vezes mais vulneráveis a gastar nosso dinheiro em busca de uma satisfação momentânea que a compra gera em nosso cérebro.
De fato, quando adquirimos algo, temos a tendência de produzir uma alta dose de estímulos na nossa mente, o que nos dá uma sensação de prazer. Mas essa sensação, em um curto espaço de tempo, traz com ela efeitos colaterais como a culpa, a ansiedade e muitas vezes as dívidas no cartão de crédito.
Cada pessoa possui caminhos individuais para percorrer durante momentos de tristeza e sofrimento, mas o que se sabe é que para todos nós esse trajeto é recheado de armadilhas. Compreender que estímulos milagrosos para aliviar a sua dor não existem já é a primeira evolução que podemos considerar.
Além disso, utilizar-se dos seus relacionamentos mais próximos pode auxiliar a suprir essa necessidade que as compras parecem solucionar. Aproximar-se de parentes e amigos exerce tremenda influência positiva em nossos processos de melhora.
Desde que você não faça como a Camila, e fique levando eles no shopping para fazer compras.
Horácio TOCO é Mentor de Desenvolvimento Pessoal (especializado em felicidade), Escritor, Palestrante e Colunista da revista Vida Simples.